segunda-feira, 21 de novembro de 2011

CXI. Da Própria Obra

Exalça o Remendão seu trabalho de esteta...
Mestre Alfaiate gaba o seu corte ao freguês...
         Por que motivo só não pode o Poeta
                 Elogiar o que fez?


                                Nota


     O quarteto XLVIII, que assim começa:
     "Qualquer ideia que te agrade 
     Por isso mesmo... é tua..." 
     dispensaria esta nota. Em todo caso, para dar uma satisfação ao leitor
desprevenido dir-lhe-ei que o número V foi colhido em La Bruyère, o LIII
em Molière (era useiro e vezeiro em tais empréstimos), o LVI em Rivarol,
o LXIII em La Fontaine (outro que tal), o LXIX em La Rochefoucauld, o
LXXVII em D. Francisco Manuel de Melo, e o XCV, que deu título ao livro,
em Swift.
     Quanto aos de número XVII, XLIV, XLV, L, LV, LXII, LXXXIII, XC,
LXXXV e XCVI, é-me agora impossível lhes descobrir as fontes, visto que
não foram propriamente hauridos na obra de seus autores, mas retive-os,
quase sem querer, ao acaso da preguiçosa e desconexa leitura de almana-
ques e revistas - problema este que, desde já, deixo entregue à paciente
exegese das traças.
     Outras aproximações ou encontros que porventura ocorram acham-se
incursos e previstos no número XLVII.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

CX. Da Morte

Um dia... Pronto!... me acabo.
Pois seja o que tem de ser.
Morrer que me importa?... O diabo
     É deixar de viver! 

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

CIX. Da Amarga Sabedoria

Conhecer a si mesmo e aos outros... Ver ao mal
Com mais clareza... ó triste e doloroso dom!
     E sofrer mais que todos, no final,
     Sem o consolo de ter sido bom...

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

CVIII. Da Falta de Troco

Quase nunca ao mais alto dos talentos
Um prático sucesso corresponde:
Se só tens uma nota de quinhentos
Como conseguirás andar de bonde?

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

CVII. Da Condição Humana

Se variam na casca, idêntico é o miolo,
Julguem-se embora de diversa trama:
Ninguém mais se parece a um verdadeiro tolo
Que o mais sutil dos sábios quando ama.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

CVI. Do Verdadeiro Mérito

Esse talento que te faz tão altaneiro
Não vem de ti: é um dom, como a beleza ou a graça.
Mais te orgulhe, se o tens, teu cavalo de raça...
     Pois foi comprado com o teu dinheiro.