Exalça o Remendão seu trabalho de esteta...
Mestre Alfaiate gaba o seu corte ao freguês...
Por que motivo só não pode o Poeta
Elogiar o que fez?
Nota
O quarteto XLVIII, que assim começa:
"Qualquer ideia que te agrade
Por isso mesmo... é tua..."
dispensaria esta nota. Em todo caso, para dar uma satisfação ao leitor
desprevenido dir-lhe-ei que o número V foi colhido em La Bruyère, o LIII
em Molière (era useiro e vezeiro em tais empréstimos), o LVI em Rivarol,
o LXIII em La Fontaine (outro que tal), o LXIX em La Rochefoucauld, o
LXXVII em D. Francisco Manuel de Melo, e o XCV, que deu título ao livro,
em Swift.
Quanto aos de número XVII, XLIV, XLV, L, LV, LXII, LXXXIII, XC,
LXXXV e XCVI, é-me agora impossível lhes descobrir as fontes, visto que
não foram propriamente hauridos na obra de seus autores, mas retive-os,
quase sem querer, ao acaso da preguiçosa e desconexa leitura de almana-
ques e revistas - problema este que, desde já, deixo entregue à paciente
exegese das traças.
Outras aproximações ou encontros que porventura ocorram acham-se
incursos e previstos no número XLVII.
(1951) A Monteiro Lobato O.D.C. O AUTOR. "Não sejas muito justo; nem mais sábio do que é necessário, para que não venhas a ser estúpido". Eclesiastes, 7, 16.
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
CX. Da Morte
Um dia... Pronto!... me acabo.
Pois seja o que tem de ser.
Morrer que me importa?... O diabo
É deixar de viver!
Pois seja o que tem de ser.
Morrer que me importa?... O diabo
É deixar de viver!
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
CIX. Da Amarga Sabedoria
Conhecer a si mesmo e aos outros... Ver ao mal
Com mais clareza... ó triste e doloroso dom!
E sofrer mais que todos, no final,
Sem o consolo de ter sido bom...
Com mais clareza... ó triste e doloroso dom!
E sofrer mais que todos, no final,
Sem o consolo de ter sido bom...
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
CVIII. Da Falta de Troco
Quase nunca ao mais alto dos talentos
Um prático sucesso corresponde:
Se só tens uma nota de quinhentos
Como conseguirás andar de bonde?
Um prático sucesso corresponde:
Se só tens uma nota de quinhentos
Como conseguirás andar de bonde?
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
CVII. Da Condição Humana
Se variam na casca, idêntico é o miolo,
Julguem-se embora de diversa trama:
Ninguém mais se parece a um verdadeiro tolo
Que o mais sutil dos sábios quando ama.
Julguem-se embora de diversa trama:
Ninguém mais se parece a um verdadeiro tolo
Que o mais sutil dos sábios quando ama.
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
CVI. Do Verdadeiro Mérito
Esse talento que te faz tão altaneiro
Não vem de ti: é um dom, como a beleza ou a graça.
Mais te orgulhe, se o tens, teu cavalo de raça...
Pois foi comprado com o teu dinheiro.
Não vem de ti: é um dom, como a beleza ou a graça.
Mais te orgulhe, se o tens, teu cavalo de raça...
Pois foi comprado com o teu dinheiro.
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
CV. Da Maneira de Amar os Inimigos
Novo inimigo tens? Não te cause pesar
Tão risonho motivo...
No dia em que triunfes, hás de achar
Na cara dele o teu prazer mais vivo.
Tão risonho motivo...
No dia em que triunfes, hás de achar
Na cara dele o teu prazer mais vivo.
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
CIV. Da Amiga Assistência
Um novo amigo tens? Não te cause alegria
Essa afeição de todos os momentos.
Mais um que há de trazer, para os teus sofrimentos,
A sua inócua simpatia...
Essa afeição de todos os momentos.
Mais um que há de trazer, para os teus sofrimentos,
A sua inócua simpatia...
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
CIII. De Como Perdoar os Inimigos
Perdoas... és cristão... bem o compreendo...
E é mais cômodo, em suma.
Não desculpes, porém, coisa nenhuma,
Que eles bem sabem o que estão fazendo...
E é mais cômodo, em suma.
Não desculpes, porém, coisa nenhuma,
Que eles bem sabem o que estão fazendo...
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
CII. Da Vergonha
Ora, o que sentes é puro
Receio de seres visto.
Não, vergonha não é isto:
Vergonha é a que tens no escuro...
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
CI. Da Humana Condição
Custa o rico a entrar no Céu
(Afirma o povo e não erra).
Porém muito mais difícil
É um pobre ficar na terra...
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
C. Da Conformidade
Isto de ideias singulares...
Um grande escolho!
Se em meio aos tortos por acaso andares,
Fecha um olho.
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
XCIX. Das Devotas
Depois de todos os encantos idos,
Lhes chega a Devoção, em voo silencioso,
Coruja triste que só faz pouso
No oco dos velhos troncos carcomidos...
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
XCVIII. Da Experiência
A experiência de nada serve à gente.
É um médico tardio, distraído:
Põe-se a forjar receitas quando o doente
Já está perdido...
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
XCVII. Da Calúnia
Sorri com tranquilidade
Quando alguém te calunia.
Quem sabe o que não seria
Se ele dissesse a verdade...
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
XCVI. Dos Hóspedes
Esta vida é uma estranha hospedaria,
De onde se parte quase sempre às tontas,
Pois nunca as nossas malas estão prontas,
E a nossa conta nunca está em dia...
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
XCV. Da Sátira
A sátira é um espelho: em sua face nua,
Fielmente refletidas,
Descobres, de uma em uma, as caras conhecidas,
E nunca vês a tua...
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
XCIV. Da Razão
Que de tolices, talvez,
Tem evitado a Razão!
O triste é que até hoje nunca fez
Nenhuma grande ação...
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
XCIII. Da Velha História
A história de Pia e Pio
Deste modo se passou:
Tanto ele a perseguiu
Que ela um dia o apanhou...
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
XCII. Da Plenitude
Um dia, ao Zé Caipora e ao Zé Feliz,
Apresentou-se um gênio benfazejo.
E, para espanto seu, "Eu nada mais desejo..."
Cada um lhe diz.
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
XCI. Das Inclinações e do Estômago
Se do lado de Deus ou do Diabo te pões,
Isto são coisas intestinas...
No sábado de noite: álcool e bailarinas...
Domingo de manhã: limonada e sermões...
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
XC. Dos Defeitos Alheios
Do pródigo sorris... "Coitado! é um bom sujeito..."
Mas o avarento... "Ui! que sórdido animal!"
Pudera não! se por sinal
Não tiras deste um só proveito...
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
LXXXIX. Da Alegria nas Atribulações
"Olha! o melhor é sorrires!"
Mas já se viu que lembrança!
Dá-me primeiro a bonança,
Que eu te darei o arco-íris.
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
LXXXVIII. Da Riqueza
O dinheiro não traz venturas, certamente.
Mas dá algum conforto... E em verdade te digo:
Sempre é melhor chorar junto à lareira quente
Do que na rua, ao desabrigo.
Mas dá algum conforto... E em verdade te digo:
Sempre é melhor chorar junto à lareira quente
Do que na rua, ao desabrigo.
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
LXXXVII. Dos Benefícios da Pobreza
Pobreza invejas não traz
A ninguém...
Diz-me, acaso lhe descobrirás
Um outro bem?
A ninguém...
Diz-me, acaso lhe descobrirás
Um outro bem?
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
LXXXVI. Do Outro Mundo
Mandou chamar um morimbundo
Seus inimigos e abraçá-los quis.
"Bem se vê (um então lhe diz)
Que já não és desse mundo..."
Seus inimigos e abraçá-los quis.
"Bem se vê (um então lhe diz)
Que já não és desse mundo..."
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
LXXXV. Da Viuvez
Ele está morto. Ela, aos ais.
Mas, nesse lúgubre assunto,
Quem fica viúvo é o defunto...
Porque esse não cansa mais.
Mas, nesse lúgubre assunto,
Quem fica viúvo é o defunto...
Porque esse não cansa mais.
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
LXXXIV. Da Moderação
Cuidado! Muito cuidado...
Mesmo no bom caminho urge medida e jeito.
Pois ninguém se parece tanto a um celerado
Como um santo perfeito...
Mesmo no bom caminho urge medida e jeito.
Pois ninguém se parece tanto a um celerado
Como um santo perfeito...
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
LXXXIII. Do Mal da Velhice
Chega a velhice um dia... E a gente ainda pensa
Que vive... E adora ainda mais a vida!
Como o enfermo que em vez de dar combate à doença
Busca torná-la ainda mais comprida...
Que vive... E adora ainda mais a vida!
Como o enfermo que em vez de dar combate à doença
Busca torná-la ainda mais comprida...
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
LXXXII. Da Agitação da Vida
Lida no doido afã!
Vamos! Investe, vai contra os moinhos de vento!
Um dia tu verás que tudo é sombra vã,
Tênue fumo que a morte assopra num momento...
Vamos! Investe, vai contra os moinhos de vento!
Um dia tu verás que tudo é sombra vã,
Tênue fumo que a morte assopra num momento...
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
LXXXI. Da Ação
Ante o Herói, num sorriso o teu pasmo transforma:
Ele que faça História, e a desfaça, à vontade...
Pobre Bárbaro, entregue a mais grosseira forma
Da múltipla e infinita Realidade!
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
LXXX. Do Ovo de Colombo
Nos acontecimentos, sim, é que há Destino:
Nos homens, não - espuma de um segundo...
Se Colombo morresse em pequenino,
O Neves descobria o Novo Mundo!
LXXIX. Da Contração ao Trabalho
Forcejares assim dessa maneira...
Olha! Só aos basbaques impressiona,
A esses que vão espiar, nos barracões de lona,
A ingênua exibição dos hércules de feira...
quinta-feira, 28 de julho de 2011
LXXVIII. Da Preguiça
Suave preguiça, que do mal-querer
E de tolices mil ao abrigo nos pões...
Por causa tua, quantas más ações
Deixei de cometer!
E de tolices mil ao abrigo nos pões...
Por causa tua, quantas más ações
Deixei de cometer!
segunda-feira, 25 de julho de 2011
LXXVII. Da Indiscrição
Passível é de judicial sentença
O que na casa alheia se intromete.
Só nos falta é uma lei que aos importunos vete
A entrada em nossas almas, sem licença...
quinta-feira, 21 de julho de 2011
LXXVI. Da Discrição
Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo de teu amigo
Possui amigos também...
segunda-feira, 18 de julho de 2011
LXXV. Das Confidências
Quiseste expor teu coração a nu...
E assim, ouvi-lhe todo amoroso enleio.
Ah, pobre amigo, nunca saibas tu
Como é ridículo o amor... alheio...
quinta-feira, 14 de julho de 2011
LXXIV. Do Amoroso Esquecimento
Eu, agora - que desfecho! -,
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
de lembrar que te esqueci?
segunda-feira, 11 de julho de 2011
LXXIII. Da Realidade
O sumo bem só no ideal perdura...
Ah! quanta vez a vida nos revela
Que "a saudade da amada criatura"
É bem melhor do que a presença dela...
quinta-feira, 7 de julho de 2011
LXXII. Do Objeto Amado
Impossível que a gente haja nascido
Com os encantos que um no outro vê!
E um belo dia se descobre que
Houvera apenas um mal-entendido...
segunda-feira, 4 de julho de 2011
LXXI. Das Penas de Amor
É só por teu egoismo impenitente
Que o sentimento se transforma em dor.
O que julgas, assim, penas de amor,
São penas de amor-próprio, simplesmente...
quinta-feira, 30 de junho de 2011
LXX. Da Caridade
Se se pudesse dar, indefinidamente,
Mas sem, do que se deu, nada perder, em suma,
Ainda assim, muita gente,
Nunca daria coisa alguma...
segunda-feira, 27 de junho de 2011
LXIX Da Virtude
Com que tenacidade
Vai seguindo a Virtude a dolorosa Via!
Olhai! passo a passo, a Vaidade
Lhe serve de companhia...
quinta-feira, 23 de junho de 2011
LXVIII. Da Felicidade
Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura,
Tendo-os na ponta do nariz!
segunda-feira, 20 de junho de 2011
LXVII. Do Capítulo Primeiro do Gênesis
Sesteava Adão. Quando, sem mais aquela,
Se achega Jeová e diz-lhe, malicioso:
"Dorme, que este é o teu último repouso."
E retirou-lhe Eva da costela.
quinta-feira, 16 de junho de 2011
LXVI. Dos Defeitos e das Qualidades
Diz o Elefante às rãs que em torno dele saltam:
"Mais compostura! Ó Céus! Que piruetas incríveis!"
Pois são sempre, nos outros, desprezíveis
As qualidades que nos faltam...
LXV. Das Alianças Desiguais
Gato do Mato e Leão, conforme o combinado,
Juntos caçavam corças pelo mato.
As corças escaparam... Resultado:
Não escapou o gato.
quinta-feira, 9 de junho de 2011
LXIV. Dos Males
Mono Velho, a gemer de gota, avista um leão.
Qual gota! Qual o quê! Logo trepa a um coqueiro.
Nada, para esquecer uma aflição,
Como um grande tormento verdadeiro...
segunda-feira, 6 de junho de 2011
LXIII. Das Falsas Posições
Com a pele do leão vestiu-se o burro um dia.
Porém no seu encalço, a cada instante e hora,
"Olha o burro! Fiau! Fiau!" gritava a bicharia...
Tinha o parvo esquecido as orelhas de fora!
quinta-feira, 2 de junho de 2011
LXII. Dos Pontos de Vista
A mosca, a debater-se:"Não! Deus não existe!
Somente o Acaso rege a terrena existência."
A Aranha: "Glória a Ti, Divina Providência,
Que a minha humilde teia essa mosca atraíste!"
segunda-feira, 30 de maio de 2011
LXI. Dos Títulos do Leão
Ele que é força pura, ele que é puro egoísmo,
No entanto é o Nobre, é o Justo... é a Sua Alteza o Leão!
Pois que só um consolo resta à escravidão:
Idealizar o despotismo...
quinta-feira, 26 de maio de 2011
LX. Da Interminável Despedida
Ó Mocidade, adeus! Já vai chegar a hora!
Adeus, adeus... Oh! essa longa despedida...
E sem notar que há muito ela se foi embora,
Ficamos a acenar-lhe toda a vida...
segunda-feira, 23 de maio de 2011
LIX. Do Riso
As setas de ouro de teu riso inflige
À sombra que te quer amedrontar.
Um canto muros erige:
Um riso os faz desabar.
quinta-feira, 19 de maio de 2011
LVIII. Do Direito de Contradizer-me
Que eu tenha um juízo ab-eterno
E sempre a mesma opinião?
Mas por que devo suar no inverno
Só porque o fiz no verão?
segunda-feira, 16 de maio de 2011
LVII. Da Sinceridade
Tens um amigo que fala bem
E um cão que nada explica.
Um jura-te amizade... O outro, porém,
Seus bons serviços te dedica.
quinta-feira, 12 de maio de 2011
LVI. Da Compreensão
Uns dizem mal de nós, mas sempre existe alguém
Que nos estime, afinal...
E todo o bem que diz, esse precioso bem...
Meu Deus!... como diz o mal!
segunda-feira, 9 de maio de 2011
LV. Do Espetáculo Desta Vida
Impossível será que melhor vida exista,
Enquanto o mundo assim se distribuir:
No palco da Estupidez, para ser vista,
E a Inteligência na plateia, a rir...
quinta-feira, 5 de maio de 2011
LIV. Do Golpe de Vista
Ah, quem me dera, ante o espetáculo do mundo,
Sem mais hesitações e sem maior fadiga,
Esse instantâneo olhar, incisivo e profundo,
Com que julga a mulher as toilettes da amiga!
segunda-feira, 2 de maio de 2011
LIII. Das Leis da Natureza
Falar contra as mulheres...
Que ingenuidade a tua!
Diz-me, acaso queres
Ironizar as variações da lua?
quinta-feira, 28 de abril de 2011
LII. Do que Elas Dizem
O que elas dizem nunca tem sentido?
Que importa? Escuta-as um momento.
Como quem ouve, entre encantado e distraído,
A voz das águas... o rumor dos ventos...
segunda-feira, 25 de abril de 2011
LI. Da Inconstância das Mulheres
Deixaram-te por outro... e te arrelias
Contra esse antigo, feminil defeito.
Outro refrão, porém, me cantarias,
Se ela traísse alguém em teu proveito.
quinta-feira, 21 de abril de 2011
L. Da Amizade Entre Mulheres
Dizem-se amigas... Beijam-se... Mas qual!
Haverá quem nisso creia?
Salvo se uma das duas, por sinal,
For muito velha, ou muito feia...
Haverá quem nisso creia?
Salvo se uma das duas, por sinal,
For muito velha, ou muito feia...
segunda-feira, 18 de abril de 2011
XLIX. Dos Pequenos Ridículos
Nunca faças escândalos. Ao menos,
Visto que tanto ousas,
Não os faças pequenos...
O ridículo está é nas pequenas cousas.
quinta-feira, 14 de abril de 2011
XLVIII. Das Ideias
Qualquer ideia que te agrade,
Por isso mesmo... é tua.
O autor nada mais fez que vestir a verdade
Que dentro em ti se achava inteiramente nua...
segunda-feira, 11 de abril de 2011
XLVII. Do Exercício da Filosofia
Como o burrico mourejando à nora,
A mente humana sempre as mesmas voltas dá...
Tolice alguma nos ocorrerá
Que não a tenha dito um sábio grego outrora...
quinta-feira, 7 de abril de 2011
XLVI. Dos Sistemas
Já trazes, ao nascer, tua filosofia.
As razões? Essas, vêm posteriormente,
Tal como escolhes, na chapelaria,
A fôrma que mais te assente...
As razões? Essas, vêm posteriormente,
Tal como escolhes, na chapelaria,
A fôrma que mais te assente...
segunda-feira, 4 de abril de 2011
XLV. Da Sabedoria dos Livros
Não penses compreender a vida nos autores.
Nenhum disto é capaz.
Mas, à medida que vivendo fores,
Melhor os compreenderás.
quinta-feira, 31 de março de 2011
XLIV. Dos Livros
Não percas nunca, pelo vão saber,
A fonte viva da sabedoria.
Por mais que estudes, que te adiantaria,
Se a teu amigo tu não sabes ler?
A fonte viva da sabedoria.
Por mais que estudes, que te adiantaria,
Se a teu amigo tu não sabes ler?
segunda-feira, 28 de março de 2011
XLIII. Da Inútil Sabedoria
"Conhece-te a ti mesmo." Dessa, agora,
O alcance não adivinho.
Muito mais útil nos fora
Conhecer nosso vizinho...
O alcance não adivinho.
Muito mais útil nos fora
Conhecer nosso vizinho...
quinta-feira, 24 de março de 2011
XLII. Do Espetáculo de Si Mesmo
Conhecer a si mesmo é inútil, parece,
Mas sempre diverte um pouco...
Coisa assim como um louco tivesse
Consciência de que é louco.
segunda-feira, 21 de março de 2011
XLI. Da Arte de Ser Bom
Sê bom. Mas ao coração
Prudência e cautela ajunta.
Quem todo de mel se unta,
Os ursos o lamberão.
quinta-feira, 17 de março de 2011
XL. Do Sabor das Coisas
Por mais raro que seja, ou mais antigo,
Só um vinho é deveras excelente:
Aquele que tu bebes calmamente
Com o teu mais velho e silencioso amigo...
segunda-feira, 14 de março de 2011
XXXIX. Do Pranto
Não tentes consolar o desgraçado
Que chora amargamente a sorte má.
Se o tirares por fim do seu estado,
Que outra consolação lhe restará?
quinta-feira, 10 de março de 2011
XXXVIII. Do Prazer
Quanto mais leve tanto mais sutil
O prazer que das coisas nos provém.
Escusado é beber todo um barril
Para saber que gosto o vinho tem.
segunda-feira, 7 de março de 2011
XXXVII. Da Contradição
Se te contradisseste e acusam-te... sorri.
Pois nada houve em realidade.
Teu pensamento é que chegou, por si,
Ao outro polo da Verdade...
quinta-feira, 3 de março de 2011
XXXVI. Da Falsidade
Foi tudo falso, o que ela disse?
Fecha os olhos e crê: a mentira é tão linda!
Nem ela sabe que fingir meiguice
É o mais certo sinal de que te ama ainda...
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
XXXV. Da Eterna Procura
Só o desejo inquieto, que não passa,
Faz o encanto da coisa desejada...
E terminamos desdenhando a caça
Pela doida aventura da caçada.
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
XXXIV. Da Perfeição da Vida
Por que prender a vida em conceitos e normas?
O Belo e o Feio... o Bom e o Mau... Dor e Prazer...
Tudo, afinal, são formas
E não degraus do Ser!
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
XXXIII. Da Beleza das Almas
Se é bela a alma em si, que importa o proceder?
Com Marco Antônio, rei da sedução,
Sentiriam os anjos mais prazer
Do que na companhia de Catão...
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
XXXII. Das Verdades
A verdade mais nova, ela somente, existe!
Até que um dia, para os mais meninos,
Vai tomando esse aspecto, irrisório e triste,
Dos velhos figurinos...
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
XXXI. Da Pobre Alma
Como é que hás de poder, ó Alma, devassar
Essas da pura essência invisíveis paragens?
Tu que enfim não és mais do que um ansioso olhar!
Ó pobre Alma adoradora das Imagens...
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
XXX. Do Eterno Mistério
"Um outro mundo existe... uma outra vida..."
Mas de que serve ires para lá?
Bem como aqui, tu'alma atônita e perdida
Nada compreenderá...
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
XXIX. Da Análise
Eis um problema! E cada sábio nele aplica
As suas lentes abismais.
Mas quem com isso ganha é o problema, que fica
Sempre com um x a mais...
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
XXVIII. Do "Homo Sapiens"
E eis que, ante a infinita Criação,
O próprio Deus parou, desconcertado e mudo!
Num sorriso, inventou o homo sapiens, então,
Para que lhe explicasse aquilo tudo...
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
XXVII. Do Espírito e do Corpo
O espírito é variável como o vento,
Mais coerente é o corpo, e mais discreto...
Mudaste muita vez de pensamento,
Mas nunca de teu vinho predileto.
Mais coerente é o corpo, e mais discreto...
Mudaste muita vez de pensamento,
Mas nunca de teu vinho predileto.
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
XXVI. Da Mediocridade
Nossa alma incapaz e pequenina
Mais complacência que irrisão merece.
Se ninguém é tão bom quanto imagina,
Também não é tão mau como parece.
Mais complacência que irrisão merece.
Se ninguém é tão bom quanto imagina,
Também não é tão mau como parece.
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
XXV. Da Paz Interior
O sossego interior, se queres atingi-lo,
Não deixes coisa alguma incompleta ou adiada.
Não há nada que dê um sono mais tranquilo
Que uma vingança bem executada...
Não deixes coisa alguma incompleta ou adiada.
Não há nada que dê um sono mais tranquilo
Que uma vingança bem executada...
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
XXIV. Da Infiel Companheira
Como um cego, grita a gente:
"Felicidade onde estás?"
Ou vai-nos andando à frente...
Ou ficou lá para trás.
"Felicidade onde estás?"
Ou vai-nos andando à frente...
Ou ficou lá para trás.
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
XXIII. Dos Nossos Males
A nós nos bastem nossos próprios ais,
Que a ninguém sua cruz é pequenina.
Por pior que seja a situação da China,
Os nossos calos doem muito mais...
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
XXII. Da Boa e da Má Fortuna
É sem razão, e é sem merecimento,
Que a gente a sorte maldiz:
Quanto a mim, sempre odiei o sofrimento,
Mas nunca soube ser feliz...
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
XXI. Das Ilusões
Meu saco de ilusões, bem cheio tive-o.
Com ele ia subindo a ladeira da vida.
E, no entretanto, após cada ilusão perdida...
Que extraordinária sensação de alívio.
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
XX. Dos Sofrimentos Quotidianos
Tricas... Nadinhas mil... Ridículos extremos...
Enxame atroz que em torno à gente esvoaça.
E disto, e só por isto envelhecemos...
Nem todos podem ter uma grande desgraça!
Enxame atroz que em torno à gente esvoaça.
E disto, e só por isto envelhecemos...
Nem todos podem ter uma grande desgraça!
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
XIX. Dos Milagres
O milagre não é dar vida ao corpo extinto,
Ou luz ao cego, ou eloquência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
Milagre é acreditarem nisso tudo!
Ou luz ao cego, ou eloquência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
Milagre é acreditarem nisso tudo!
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