Se Deus, tal como Satanás, procura
As almas aliciar... por que deixa ao Pecado
Esse caminho suave, essa fatal doçura
E faz do Bem um fruto amargo e indesejado?
(1951) A Monteiro Lobato O.D.C. O AUTOR. "Não sejas muito justo; nem mais sábio do que é necessário, para que não venhas a ser estúpido". Eclesiastes, 7, 16.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
XVII. Da Indulgência
Não perturbes a paz da tua vida,
Acolhe a todos igualmente bem.
A indulgência é a maneira mais polida
De desprezar alguém.
Acolhe a todos igualmente bem.
A indulgência é a maneira mais polida
De desprezar alguém.
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
XVI. Da Discreta Alegria
Longe do mundo vão, goza o feliz minuto
Que arrebataste às horas distraídas.
Maior prazer não é roubar um fruto
Mas sim ir saboreá-lo às escondidas.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
XV. Do Mau Estilo
Todo o bem, todo o mal que eles te dizem, nada
Seria, se soubessem expressá-lo...
O ataque de uma borboleta agrada
Mais que todos os beijos de um cavalo.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
XIV. Do Mal e do Bem
Todos têm seu encanto: os santos e os corruptos.
Não há coisa, na vida, inteiramente má.
Tu dizes que a verdade produz frutos...
Já viste as flores que a mentira dá?
XIII. Do Belo
Nada, no mundo, é, por si mesmo, feio.
Inda a mais vil mulher, inda mais o triste poema,
Palpita sempre neles o divino anseio
Da beleza suprema.
domingo, 12 de dezembro de 2010
XII. Das Utopias
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A mágica presença das estrelas!
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
XI. Das Corcundas
As costas de Polichinelo arrasas
Só porque fogem das comuns medidas?
Olha! quem sabe não serão as asas
De um Anjo, sob as vestes escondidas...
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
X. Da Vida Ascética
Não foge ao mundo o verdadeiro asceta,
Pois em si mesmo tem seu próprio asilo.
E em meio à humana turba, arrebatada e inquieta,
Só ele é simples e tranquilo.
domingo, 28 de novembro de 2010
IX. Da Inquieta Esperança
Bem sabes Tu, Senhor, que o bem melhor é aquele
Que não passa, talvez, de um desejo ilusório.
Nunca me dês o Céu... quero é sonhar com ele
Na inquietação feliz do Purgatório.
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
VIII. Dos Mundos
Deus criou este mundo. O homem, todavia,
Entrou a desconfiar, cogitabundo...
Decerto não gostou lá muito do que via...
E foi logo inventando o outro mundo.
domingo, 21 de novembro de 2010
VII. Da Voluptuosidade
Tudo, mesmo a velhice, mesmo a doença,
Tudo comporta o seu prazer...
E até o pobre morimbundo pensa
Na maneira mais suave de morrer...
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
VI. Do Cuidado da Forma
Teu verso, barro vil,
No teu casto retiro, amolga, enrija, pule...
Vê depois como brilha, entre os mais, o imbecil,
Arredondado e liso como um bule!
domingo, 14 de novembro de 2010
V. Das Belas Frases
Frases felizes... Frases encantadas...
Ó festa dos ouvidos!
Sempre há tolices muito bem ornadas...
Como há pacóvios bem vestidos.
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
IV. Da Preocupação de Escrever
Escrever... Mas por quê? Por vaidade, está visto...
Pura vaidade, escrever!
Pegar da pena... Olhai que graça terá isto,
Se já se sabe tudo o que se vai dizer!...
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
III. Do Estilo
Fere de leve a frase... E esquece... Nada
Convém que se repita...
Só em linguagem amorosa agrada
A mesma coisa cem mil vezes dita.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
II. Do Amigo
Olha! É como um vaso
De porcelana rara o teu amigo.
Nunca te sirvas dele... Que perigo!
Quebrar-se-ia, acaso...
terça-feira, 2 de novembro de 2010
I. Da Observação
Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...
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