segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

XVIII. Dos Pescadores de Almas

Se Deus, tal como Satanás, procura 
As almas aliciar... por que deixa ao Pecado 
Esse caminho suave, essa fatal doçura 
E faz do Bem um fruto amargo e indesejado?

XVII. Da Indulgência

Não perturbes a paz da tua vida, 
Acolhe a todos igualmente bem. 
A indulgência é a maneira mais polida 
     De desprezar alguém.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

XVI. Da Discreta Alegria

Longe do mundo vão, goza o feliz minuto 
Que arrebataste às horas distraídas. 
Maior prazer não é roubar um fruto 
Mas sim ir saboreá-lo às escondidas.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

XV. Do Mau Estilo

Todo o bem, todo o mal que eles te dizem, nada 
     Seria, se soubessem expressá-lo... 
O ataque de uma borboleta agrada 
Mais que todos os beijos de um cavalo.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

XIV. Do Mal e do Bem

Todos têm seu encanto: os santos e os corruptos. 
Não há coisa, na vida, inteiramente má.
Tu dizes que a verdade produz frutos... 
Já viste as flores que a mentira dá?

XIII. Do Belo

Nada, no mundo, é, por si mesmo, feio.
Inda a mais vil mulher, inda mais o triste poema, 
Palpita sempre neles o divino anseio 
     Da beleza suprema.

domingo, 12 de dezembro de 2010

XII. Das Utopias

Se as coisas são inatingíveis... ora! 
Não é motivo para não querê-las... 
Que tristes os caminhos, se não fora 
A mágica presença das estrelas!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

XI. Das Corcundas

As costas de Polichinelo arrasas 
Só porque fogem das comuns medidas? 
Olha! quem sabe não serão as asas
De um Anjo, sob as vestes escondidas...

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

X. Da Vida Ascética

Não foge ao mundo o verdadeiro asceta, 
Pois em si mesmo tem seu próprio asilo. 
E em meio à humana turba, arrebatada e inquieta, 
     Só ele é simples e tranquilo.

domingo, 28 de novembro de 2010

IX. Da Inquieta Esperança

Bem sabes Tu, Senhor, que o bem melhor é aquele 
Que não passa, talvez, de um desejo ilusório. 
Nunca me dês o Céu... quero é sonhar com ele 
    Na inquietação feliz do Purgatório.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

VIII. Dos Mundos

Deus criou este mundo. O homem, todavia, 
Entrou a desconfiar, cogitabundo... 
Decerto não gostou lá muito do que via... 
E foi logo inventando o outro mundo.

domingo, 21 de novembro de 2010

VII. Da Voluptuosidade

Tudo, mesmo a velhice, mesmo a doença, 
Tudo comporta o seu prazer... 
E até o pobre morimbundo pensa 
Na maneira mais suave de morrer...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

VI. Do Cuidado da Forma

     Teu verso, barro vil, 
No teu casto retiro, amolga, enrija, pule... 
Vê depois como brilha, entre os mais, o imbecil, 
     Arredondado e liso como um bule!

domingo, 14 de novembro de 2010

V. Das Belas Frases

Frases felizes... Frases encantadas... 
     Ó festa dos ouvidos! 
Sempre há tolices muito bem ornadas... 
     Como há pacóvios bem vestidos.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

IV. Da Preocupação de Escrever

Escrever... Mas por quê? Por vaidade, está visto... 
     Pura vaidade, escrever! 
Pegar da pena... Olhai que graça terá isto, 
Se já se sabe tudo o que se vai dizer!...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

III. Do Estilo

Fere de leve a frase... E esquece... Nada 
     Convém que se repita... 
Só em linguagem amorosa agrada 
A mesma coisa cem mil vezes dita.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

II. Do Amigo

     Olha! É como um vaso 
De porcelana rara o teu amigo. 
Nunca te sirvas dele... Que perigo!
     Quebrar-se-ia, acaso...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

I. Da Observação

Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...