domingo, 28 de novembro de 2010

IX. Da Inquieta Esperança

Bem sabes Tu, Senhor, que o bem melhor é aquele 
Que não passa, talvez, de um desejo ilusório. 
Nunca me dês o Céu... quero é sonhar com ele 
    Na inquietação feliz do Purgatório.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

VIII. Dos Mundos

Deus criou este mundo. O homem, todavia, 
Entrou a desconfiar, cogitabundo... 
Decerto não gostou lá muito do que via... 
E foi logo inventando o outro mundo.

domingo, 21 de novembro de 2010

VII. Da Voluptuosidade

Tudo, mesmo a velhice, mesmo a doença, 
Tudo comporta o seu prazer... 
E até o pobre morimbundo pensa 
Na maneira mais suave de morrer...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

VI. Do Cuidado da Forma

     Teu verso, barro vil, 
No teu casto retiro, amolga, enrija, pule... 
Vê depois como brilha, entre os mais, o imbecil, 
     Arredondado e liso como um bule!

domingo, 14 de novembro de 2010

V. Das Belas Frases

Frases felizes... Frases encantadas... 
     Ó festa dos ouvidos! 
Sempre há tolices muito bem ornadas... 
     Como há pacóvios bem vestidos.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

IV. Da Preocupação de Escrever

Escrever... Mas por quê? Por vaidade, está visto... 
     Pura vaidade, escrever! 
Pegar da pena... Olhai que graça terá isto, 
Se já se sabe tudo o que se vai dizer!...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

III. Do Estilo

Fere de leve a frase... E esquece... Nada 
     Convém que se repita... 
Só em linguagem amorosa agrada 
A mesma coisa cem mil vezes dita.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

II. Do Amigo

     Olha! É como um vaso 
De porcelana rara o teu amigo. 
Nunca te sirvas dele... Que perigo!
     Quebrar-se-ia, acaso...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

I. Da Observação

Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...