CV. Da Maneira de Amar os Inimigos

Novo inimigo tens? Não te cause pesar
Tão risonho motivo...
No dia em que triunfes, hás de achar
Na cara dele o teu prazer mais vivo.

CIV. Da Amiga Assistência

Um novo amigo tens? Não te cause alegria
Essa afeição de todos os momentos.
Mais um que há de trazer, para os teus sofrimentos,
     A sua inócua simpatia...

CIII. De Como Perdoar os Inimigos

Perdoas... és cristão... bem o compreendo...
     E é mais cômodo, em suma.
Não desculpes, porém, coisa nenhuma,
Que eles bem sabem o que estão fazendo...

CII. Da Vergonha

Ora, o que sentes é puro

Receio de seres visto.

Não, vergonha não é isto:

Vergonha é a que tens no escuro...

CI. Da Humana Condição

Custa o rico a entrar no Céu

(Afirma o povo e não erra).

Porém muito mais difícil

É um pobre ficar na terra...

C. Da Conformidade

Isto de ideias singulares... 

     Um grande escolho! 

Se em meio aos tortos por acaso andares, 

     Fecha um olho.

XCIX. Das Devotas

Depois de todos os encantos idos, 

Lhes chega a Devoção, em voo silencioso, 

Coruja triste que só faz pouso 

No oco dos velhos troncos carcomidos...

XCVIII. Da Experiência

A experiência de nada serve à gente. 

É um médico tardio, distraído: 

Põe-se a forjar receitas quando o doente 

     Já está perdido...

XCVII. Da Calúnia

Sorri com tranquilidade 

Quando alguém te calunia. 

Quem sabe o que não seria 

Se ele dissesse a verdade...